Foi sem amortecedores, aviso prévio, indícios ou introduções. Abriram a porta do quarto e me atiraram: "O Michael Jackson morreu!". Como sempre nesses casos, demorou para que eu me desse realmente conta do acontecido e as imagens aéreas de Neverland, ambulância e trechos de clips musicais na televisão fizeram com que me curvasse, desse um suspiro e dissesse: "Perdeu a graça." Perdeu a graça tudo, agora já era, perdeu a graça. A notícia da morte de um ídolo que fez parte da sua vida, dos seus momentos mais introspectivos sempre traz melancolia ao chegar, mas se você a receber em um momento que já é bad, aí a desesperança imerge, avassaladoramente. Entre meus 11 e 13 anos o Michael foi minha companhia, herói e válvula de escape enquanto tinha de enfrentar um país estrangeiro e, pior, as crianças das escolas de um país estrangeiro. Foi literalmente um companheiro, tanto ante/pós as batalhas quanto na frente de combate, o discman sempre dando respaldo emocional. E tudo que estou contando é muito no sentido literal. Aqui, neste texto, não cabe explicar os porquês, mas o fato é que realmente eu tinha de enfrentar todos sosinha. E o fazia com o Michael. O grito de guerra cantado do herói e ídolo se tornava o meu, de uma forma interessante e bonita. E assim o Michael foi meu imaginário, tornou-se algo considerável da minha idiosincrasia. É alguém a quem devo agradecimentos, antes de mais nada. Foi ainda lá, em terras estrangeiras, que assisti com empolgação máxima a meu primeiro (primeiro de dois) "documentário sobre o Rei do Pop". Um de tantos que fizeram -fazem e vão fazer- por aí, que me dão tanto nojo, toda essa gente que não sabe de nada falando como se soubesse o quê se passava na vida de Michael Jackson. Quem sabe as verdades? Talvez nem ele mesmo soubesse, vai saber. O que sei é do meu ídolo que foi-se embora. Cedo e repentinamente demais, eu ainda tinha muitas coisas para viver com ele e para apreender dele, queria homenageá-lo, de alguma maneira demonstrar minha gratidão. Ir a um show, por exemplo. Sempre há as utopias não é. Neste luto então, como forma de respeitá-lo e homenageá-lo, não assistirei a nenhuma reportagem barata, documentário especulativo e outros sobre sua vida pessoal. É o mínimo que se pode fazer, bloquear de olhos e ouvidos todos os boatos e especulações sobre quem é o Rei do Pop e, ao meu ver, uma linda pessoa ou, para os menos credores, no mínimo muito extremamente respeitável.
I love you, Michael. You will be allways in my heart.