sexta-feira, 29 de maio de 2009

Garanto que gera (ao menos) alegria

Sabe um dos momentos em que você se sente foda por ser flamenca? É quando você assiste pela primeira vez um vídeo de uma pessoa cantando flamenco a capella e no mesmo instante em que você começa a marcar o tempo a pessoa marca exatamente o mesmo compás do lado de lá. Como eu sempre digo: é o cúmulo da comunicação. Coño!

Don't worry,

it's all part of the plan.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Tu

Sou feita por tu,/ Fui construída a partir de tu,/ Te amei./ Respirei por tua causa/ Quis respirar por tu,/ Para e por tu./ Pensei em tu,/ Por tu pensei em tu,/ Fiz por tu./ Não dormi por tu,/ Acordei por tu,/ Quis acordar por tu./ Agora/ Estudo por tu,/ Para tu, para "até tu",/ Amigo.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Essa é...

...a foto dos manos. -Cheu veeeer.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Assassinado pela ignorância

Era na televisão, mostravam uma tragédia em tempo real, mostravam possíveis mortes possivelmente acontecendo. Era no Brasil, em um estádio de futebol, em um jogo de futebol. Mostravam mais uma vez, quando o caos se intensifica nas torcidas, era o que acontece de muitos tempos em tempos. Uma presença maternal (mãe e/ou avó) aponta para a tela e mostra: "Olha lá, Meu Deeeeeus, as pessoas sendo esmagadas entre si, a lá, as pessoas estão sendo pisoteadas!" O temor pela vida do outro estava condensado no ar, na casa e nos comentários do repórter. Durante tudo, fui espectadora no sentido mais pleno e literal do adjetivo, tudo começa sendo eu telespectadora do telejornal. Talvez como resultado de meu tamanho envolvimento com a cena, me transportei para o lugar, então aconteceu duas coisas: virei espectadora real e não mais de uma cena comunitária onde aparecem todos numa visão panorâmica, passei a ser espectadora de um caso particular, que envolveu não muito mais do que quatro pessoas em torno de uma. O estádio estava lotado e desde sempre a idéia de superlotação era nítida. Estranhamente o que delimitava o lugar das pessoas torcedoras do espaço fora do estádio não eram estruturas de concreto, coisas de magnitude de estádio, era uma cerca de madeira, aquelas que cercam o boi em rodeios. Estavam condensados ali contra os limites pobres de uma cerca suja e desgastada, e eu do lado de fora observando 4 deles e apesar do barulho enlouquecido de todo o estádio, conseguia ouvir tudo o que diziam e inclusive respirações - o que tornou tudo ainda mais doloroso de se ver. Como era uma situação de caos, pânico e desordem e muitos estavam sendo feridos, um dos quatro presonagens tinha batido a cabeça em algum lugar. Não cabe nem dizer que ele "bateu" a cabeça em algo, tamanha impotência e inconsciência daquele não condiz com um sujeito ativo. Teve a cabeça colidida em algo - ou por alguma coisa - e estava tonto. De maneira clara e torturante, só eu ali tinha consciência de que se tratava de algo muitíssimo sério, e de que aquele homem precisava de cuidados. É demasiadamente pouco meu entendimento de traumatismos cranianos, mas tinha uma certeza perturbadora de que ali era o caso. O homem ficou com o olhar pairando sobre o nada, parado e inconsciente, e como único indício de vida o tronco e cabeça que rodopiavam devagar em torno do eixo do corpo. Os três amigos ou talvez conhecidos olhavam para ele se perguntando e perguntando a ele o que estava acontecendo, mas o homem não falava nada e eu, espectadora, não conseguia nehum tipo de comunicação com nada e ninguém, só estava a meu alcance observar. Um dos amigos disse: "Ow, ele precisa de tomar uma água, tá bem não!" Todos concordaram e enquanto um deles tentava encontrar fonte de vida no meio do inferno, surge mais um ser miserável, em trapos carnavalescos baratos, de fora da cerca. A partir do ponto em que migrei para a cena individual o motivo por aquilo e todos estarem ali se confundiu entre torcida e carnaval, era o caos sem dono e causa, mesmo, eram todos ali por estarem ali. Como "fantasia", o novo personagem tinha nas mãos uns fios de cabelo que pareciam ter feito parte, algum dia, de uma peruca loura. Era tanta a miséria, tanta daquela certa miséria carnavalesca brasileira, que uma pseudoperuca fazia a diversão barata, comum e piedosa. Sujo, bêbado e miserável, aquele que também observava a situação se abaixou para ver o homem inconsciente. Parecia que queria ajudar, mas a impotência era geral, ninguém entendia o que estava se passando. Dentro da cena, ninguém sabia que aquele homem podia morrer ali em poucos futuros instantes. Volta o amigo e rindo diz que "não tem água não, ele vai é continuar bebendo!" Todos riem como que para se reconfortar e olhando para a garrafa de algum destilado e um copo grande de cerveja, ambos gelados, que o amigo trazia, o homem conseguiu dar um sorriso. O sorriso mais triste que já pude ver ou imaginar. Automaticamente tratou de tomar seus goles, mas a expressão em seu rosto dizia que algo estava errado. A esta altura os coadjuvantes já sumiram do meu alcance sonoro e deixaram de comunicar com o homem, voltaram a conversar ente si e a tomar alguma espécie de rumo. Todos tentavam se alegrar dançando, pulando, gritando ou cantando alguma coisa, já não era mais o massacre da torcida sendo pisoteada por ela mesma, era alguma espécie de carnaval. Único parado ali na borda da cerca: o homem, com o copo na mão, simbolizando o excesso inconsciente, tão estupidamente valorizado. Seu olhar dizia tudo e nada, ao mesmo tempo. Não olhava para mim, olhava para o nada. Inconsciente talvez, ou então simplismente porque tinha a noção de que algo aconteceria com ele, queria não tomar esta consciência. Eu sabia que ficar ali parado e ainda, bebendo alcóol, era algo que o levaria à morte, já tinha entendido de que se tratava de um traumatismo sim - definitivamente. Algo que não havia mais retorno, ele ia morrer. O barulho do povo envolta foi ficando cada vez mais distante, a cena focava cada vez mais o rosto do homem e cada vez mais eu tentava o entender. O homem morreu de impotência e de ingorância. Pobreza, miséria, ignorância e impotência se juntaram ali e mataram alguém e para a minha angústia maior, só eu sabia o que acontecia, desde o começo. Só eu tinha alguma consciência mas, impotente, vi o homem morrer.

Psicopatologia:

founded the way out.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Supremacia do cante flamenco

Fico estupefata quando tenho a bênção de conseguir perceber o quanto a música é meio de comunicação - SIM. Está pendente terminar de ler "Música, Cérebro e Êxtase - Como a música captura nossa imaginação" de Robert Jourdain, e bem por isso não vou tentar fazer disto um texto dissertativo com toda a ciência que ele pode conter, aqui é só o depoimento de uma aspirante a cantaora. [Caracoles, escrever isto foi corajoso, porque cantaor(a) é uma qualificação muito poderosa, e lido com ela como se estivesse lidando com as cordas vocais de Montse Cortés. Mas acho que já não é mais o caso, de ficar usando falsas modéstias para esconder fatos. Com absoluta certeza, minha técnica (se posso chamar de técnica) é defeituosa, mas não vejo porque esconder que percorro com duende as notas aprendidas nas tantas melodias flamencas que já tive a graça de ouvir.] Me impressionei, ainda, esses dias, de ver como que a música - e beeeem mais especificamente falando, o cante flamenco - é um pedido de socorro ou um agradecimento. Como que não soltar aquelas notas em certas horas é tal como ser asfixiada, ficam presas ali colidindo, fazendo pressão, com a energia cinética que só elas têm. É claro que todo canto tem esta força comunicativa, mas o cante flamenco é mais. O cante flamenco tem mais interação do que todos os cantos, afirmo sem medo de tal afirmação. E aí quem sabe de flamenco vai concordar, mas a estória é que para conseguirmos concordar com tal afirmação nos é preciso conhecer - e ainda, sacar - o Flamenco, e isso leva um tempinho. Então os apaixonados por outros também esplêndidos cantos e gêneros musicias vão se indignar com a afirmação, mas deixo. É o que minh'alma sente.

domingo, 10 de maio de 2009

"Coisas" do TOC

Belo Domingo, a cabeça tá mais leve. Salva a tempo por um e-mail bondoso de uma amiga bacana-bacalhoa, time to go back to life. O ânimo que impreterívelmente tinha que voltar voltou, benditos sejam os bacalhais deste planeta. Acontece que boa parte deste ânimo resurgiu das cinzas por causa da brecha das minhas manias toquianas, as minhas coisas dos TOCs. Elas se acalmaram - graças a Deus. O que me perturba cotidianamente são as coisas materiais. Meu TOC não se agarra (tanto) a passos e jeitos e falas, o que pega (literalmente) nos nervos são as COISAS. Aaaaaaaaaai as coisas, é tanta coisa, é coisa pra lá, coisa pra cá, coisa inútil caindo, coisa útil escondida e torta. Muito torta, grosseiramente torta! Toda essa desorganização das coisas chega a me impedir de fazer algo, sem antes corrigí-las. E mesmo corrigindo aquela revista tortíssima na prateleira adjacente ao caixa, no supermercado, vai sempre surgir mais uma tortice que vai me perturbar, portanto tenho que me saciar de simetria com aquela destortice mesmo, então aproveito ao máximo a sensação de endireitar algo. Hey, se não tenha percebido, você está agora na exata mesma posição que a de um psicanalista hein. Pruveita! (Ou não). Acho que se eu estivesse vivendo numa época em que tudo fosse mais racionado, e não tivesse esse tanto gigantesco de coisas sendo produzido a cada segundo, sendo elas maioria inúteis e imprestáveis, esse TOC do caralho seria bem menor, ou talvez nem existisse em mim. É que é taaaaaaaaaanta coisa inútil, ocupando espaço e poluindo a vista e o ar, impedindo passagens, caindo e sujando os caminhos nossos! Como tenho esperança quando se fala em reciclagem, REduzir, REutilizar, REciclar! Não dá, é coisa demais já e não demora pra sermos engolidos por elas! Fábrica com trabalho quase escravo pra fazer chaveirinho? Affff, enlouquece. Ao mesmo tempo que as coisas se tornaram mais - ou tanto - importantes que o próprio Homem (humanização da coisa), elas perderam seu valor de uso, tendo só um valor de troca, e mesmo assim, as vezes nem este é justamente dado a elas. Então é assim, compram coisas e coisas que estragam e que nem chegaram a cumprir alguma utilidade, vão sendo empurradas nos lixões, nos passeios, no nosso caminho. E como já foram embora tem de se comprar mais, tem que comprar, comprar, comprar e não usar - muito menos guardá-las cuidadosamente e organizadamente. É tão bonito quando um objeto tem uma história, uma simbologia, alguma razão pra ele estar ali à nossa vista, algum SENTIDO. Mas enfim, pela exaustão percebi que não tenho como gerenciar o lixo desastrosamente mal organizado de todas as esquinas, nem as coisas incoerentes que as pessoas vão acumulando acidentalmente, enfim, não dá para exigir as relações simétricas, paralelas, perpendiculares e circulares entre as coisas, senão não vivo! E de todo, me resta manter domínio sobre as MINHAS coisas (que já são consideravelmente organizadas), trabalhar com dinamismo para que um dia, psicóloga, esteja analisando e ajudando um paciente a desgarrar-se das coisas poucas E organizadas que um dia o Mundo aprenderá a ter.